MTV BRASIL… Quase 12 anos de saudade.

A MTV Brasil, emissora ligada ao universo jovem e com foco voltado à musica e assuntos agregados a esse universo desembarcou no Brasil no ano de 1990 através do licenciamento da marca estadunidense por parte do grupo Abril que conquistou o direito de ter uma filial da empresa no Brasil. Nos Estados Unidos a empresa sempre foi controlada pela holding Viacom. A versão brasileira da Music Television conquistou uma geração, gerou tendências, nos trouxe um universo até então pouco explorado pela mídia tradicional de radiodifusão (Essa sempre regrada aos princípios da multiculturalidade com direitos e deveres em relação a solicitação e manutenção de uma concessão, já que a mesma ocorre através de processos que envolvem o poder público e seus diversos interesses – mesmo em um período pós ditatoriais e de redemocratização – e com isso fica difícil nichar programação até então. Foi algo inovador na época. Anos que o Brasil ainda não tinha sido apresentado à TV por assinatura (algo que ocorreu poucos anos mais tarde). Seu fim em 2013 foi melancólico. “fim” entre aspas pois as gerações de conteúdos foram devolvidas para a viacom e transmitida de sinal aberto para um serviço de tv paga através de assinatura e há pouco tempo alguns serviços de streaming tarifados.

Muitos jovens comunicadores ganharam visibilidade através da jovem emissora. O termo VJ (Video Jockey) ficou conhecido pelos telespectadores, mesmo que a real função dos VJs não sejam essas mas para época gerou gatilhos para muitos e muitas sonharem em ser um (a) vj da MTV. Astrid Fontenelle, Zeca Camargo, Edgard Picoli, Fábio Massari, Marcos Mion, Sabrina Parlatore, Marina Person, João Gordo, Paulo Bonfá, Marco Bianchi, a trupe Hermes & Renato. Humoristas como Tatá Werneck, Dani Calabresa, Marcelo Adnet, dentre muitos outros também marcaram uma geração. Podemos afirmar com segurança hoje o que muitos conhecem ou curtem músicas e estilos devem-se a MTV. Emissora de sinal aberto através do canal 32 UHF sinal analógico em SP e retransmitido via parabólicas e outras cidades do país também em sinal aberto. Uma filosofia que não propagava a monocultura mas surfava no mainstream e traziam propostas underground e nacionais. Desde o Rock à Música Eletrônica, passando por alguns movimentos nacionais como o mangue beat e transitando no universo Reggae, Hip Hop e etc. Os Racionais Mcs tiveram os primeiros contatos através desse canal… O que ajudou a propagar a filosofia de seu rap carregado de muita mensagem de cunho social e com identidade de periferias ao redor do país, algo que por muitos anos a mídia tradicional recusava-se em aceitar ou noticiar. O ostracismo por parte das mídias dominantes era real, enquanto a então ousada empresa com sua linguagem descolada conseguia trazer conexão aos adolescentes e adultos que buscavam algo novo na época. As décadas de 1990 e 2000 foram marcantes. Essa emissora contribuiu para que um sistema em torno de eventos, festas e a indústria fonográfica sobrevivessem… Isso fica nítido que após o seu fim hoje vemos uma destruição qualitativa de produções. Temos várias opções porém nenhuma com destaque de outrora que emociona e perdura por um período longínquo. Até a equipe do Fluminense já foi patrocinada pela emissora e uma partida beneficente entre a equipe carioca e os membros da emissora ocorreu no ano de 1997, ocorrido no estádio Moça Bonita, localizado em Bangu (Zona Oeste do Rio de Janeiro).

Mesmo quando a MTV optou em trabalhar com uma linha de shows que não remetia nada a sua essência musical, principalmente durante os anos 2000, muitos telespectadores saudosistas reclamavam. Não concordavam com o novo perfil adotado pelos executivos da empresa. Mesmo assim esses programas falavam com o jovem. Não o tratava como um playboy ou um favelado mas como um ser humano digno que merece respeito e tem o direito de expressar suas idéias. Fora a MTV algo semelhante era possível de acompanhar no extinto Programa Livre do SBT, conduzido pelo Serginho Groisman.

Após o encerramento das atividades em sinal aberto. Durante alguns anos as emissoras concorrentes como a extinta MIXTV de propriedade da família Di Gênio (Mesmos proprietários da Rádio MIX, TV CBI SP, Faculdade UNIP e colégio Objetivo) conseguiu represar parte do público porém foi em vão. Temos a sensação que os jovens tiveram que passar por um processo de “adultização” criando estereótipos muitas vezes que criavam repulsas neles mesmos em anos anteriores. A realidade é que o atual cenário é desolador e dificilmente isso seja alternado. Com a forte presença de Youtube, Spotify, aplicativos e streaming surgiram novos artistas mas sem força para atingir os corações sedentos de arranjos, letras, melodias e clipes impactantes. Existem porém a mídia tradicional faz questão de não levar à sociedade isso ou quando leva é de uma maneira escassa… Saudades MTV. Gratidão por você ter existido e me ajudado a ter acesso a muita coisa boa. Não só a mim mas a muitos por aí. Hoje há até festas e projetos musicais com referências a sua programação.

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