Entrevista: Samuca da São Bento

O hip hop como mencionado em edições anteriores da minha coluna surgiu na década de 1970 através do Kool Hurcs. Principalmente quando jamaicanos chegaram a Nova Iorque e com isso fundiram-se com o o Soul e Funk dos Estados Unidos. No Brasil esse movimento ganhou força na década de 1980. Essa filosofia diversa compõe a cultura do Real DJ, Mcs, Grafitti e dos Dancers. Muitos tiveram suas vidas transformadas pelo movimento (há muitos relatos e vivências sobre), principalmente em regiões periféricas e longe dos grandes centros que ainda resisitem e encontram fôlego e inspiração para sobreviver. O surgimento no Brasil ocorreu na estação São Bento do metrô. Eventos sempre ocorrem por lá, mostrando a força que ainda existe e resiste e nesse cenário sempre presente está o Samuca da São Bento. Um entusiasta do HIP HOP que não limita-se apenas ao local mas figura presente em diversos eventos do hip hop, não deixando morrer essa cultura. Bati um papo com ele e vamos conferir o que ele tem a nos inspirar…

Aldiéres Silva: Satisfação em poder entrevistá-lo. Diga para mim como surgiu sua paixão pelo hip hop?

Samuca da São Bento: Eu estou no hip hop desde 1994. Com isso surgiu na minha vida desde esse período.

Aldiéres Silva: Observo que muitas estações de metrô em São Paulo, sejam essas linhas públicas ou privadas possuem um “naming rights” nas estações. Para os nossos leitores que não residem em São Paulo. Vai um exemplo aqui: Estações Palmeiras-Barra Funda, Corinthians-Itaquera, Paulista-Pernambucanas, dentre outras. Acompanho sua luta em prol desse reconhecimento pela estação São Bento Hip Hop. O que você tem a dizer em relação a concessão de outros nomes a outras estação e até o momento nada em relação a estação São Bento que é muito identificada com o movimento hip hop?

Samuca da São Bento: Eu vejo que o metrô e governador possuem um certo pré conceito com a nossa cultura hip-hop por isso ocorre uma maior dificuldade em acrescentar o hip-hop na placa do metrô São Bento. Tem tantas homenagem nas estações, como por exemplo os clubes de futebol, empresas, pessoas e não há uma homenagem aos 42 anos do hip-hop no Brasil.

Aldiéres Silva: Quais bandas, mcs, djs te influenciam e você indica para os nossos leitores e leitoras acompanharem e conhecerem um pouco mais sobre o hip hop?

Samuca da São Bento: A primeira banda que comecei a curtir foi o Public Enemy dos Estados Unidos e o Snap da Alemanha. Já no rap nacional foram os racionais mcs com a música fim de semana no parque. Cito também o Digito 4 e o Família DRR. Além de curtir, essas são as minhas indicações.

Aldiéres Silva: Como você enxerga o hip hop old school e o atual? Há mais representatividade atualmente ou no passado no seu ponto de vista haviam mais engajamentos?

Samuca da São Bento: Nos anos 90 o hip-hop e o rap eram uma febre. Hoje o movimento toca e valoriza o old shcool, que é a velha escola. Por influências, muita gente da cena e eu abraçamos o flash back e o hip-hop old school devido sua qualidade musical e hits que marcaram época com mensagens reflexivas e atitudes.

Aldiéres Silva: Como você avalia o tratamento da mídia em relação ao movimento?

Samuca da São Bento: A mídia só dá valor ao hip-hop ou ao rap se for algum grupo famoso ou artistas de renome. Os pequenos projetos vão continuar na luta persistente. É necessário mais espaço na mídia para o movimento crescer cada vez mais. Ele é grande porém precisa ter mais visibilidade nesses meios.

Aldiéres Silva: Por fim resuma como o hip hop te transformou e como pode transformar pessoas.

Samuca da São Bento: O hip-hop salva muitas vidas . Me salvou… Eu morava no centro de SP e eu era puxador de carroça nas ruas da região. Eu vivia pegando papelão para sobreviver. Quando conheci o hip-hop, ele me levou até uma profissão garçon. Através dele fui direcionado a faculdade de rádio e tv e ter conhecimento cultural. Sem contar na oportunidade de conhecer muitas pessoas bacanas. Atualmente enfrento problemas de saúde em decorrência eu ser PCD. Minha luta no hip-hop não é exclusivamente essa mas o reconhecimento da estação são Bento hip-hop por parte de todos. A história surgiu aqui e é uma ofensa grava ignorar tudo isso!

Essas foram as concepções, vivencias e olhares de um guerreiro que batalha na cena, mesmo nos bastidores. Um garoto desacreditado que não titubiou e correu atrás dos seus sonhos e ideais através das poesias rimadas, artes pinceladas, batidas encorajadoras e danças que refletem um estado de espírito cheios de atitude. Não compreendido por muitos mas essencial para poucos. Esse é o hip hop que renega modismos mas torna-se vanguardista em seu propósito.

Compartilhe essa notícia