Estimados leitores que amam música e eventos, o mês de outubro desse ano marcou o encontro dos universos da música eletrônica e do hip hop. A primeira representada pela edição brasileira do festival belga Tomorrowland, que novamente ocorreu em Itu (SP), além da divulgação anual do conceituado ranking de votação aberta ao público do TOP 100 DJS elaborado pela revista britânica DJ MAG. A segunda ocorreu em Tóquio através da realização da versão mundial do DMC World Championship (Campeonato de performances de turntablism – habilidades desenvolvidas por djs utilizando toca discos). O Brasil conseguiu boa representatividade em ambos os estilos, sem contar claro com mais uma edição de um dos principais festivais do mundo novamente sendo realizado por aqui.
Vou iniciar através do cronograma natural dos acontecimentos, portanto iniciarei com a lista da DJ MAG. Com o passar dos anos enxurradas de críticas surgem por muitos não concordarem com os resultados obtidos anualmente nos rankings. Até uns anos atrás jornalistas dessa revista inglesa e stakeholders da cena eletrônica eram os responsáveis por elegerem os melhores djs e clubs ao redor do mundo. Com o tempo essa votação foi aberta ao público global (Eu sou um dos eleitores anuais dos TOP 100 djs, clubs e festivals) e aí surgem algumas inconformidades devido haver mais emoções e idolatrias do que análises tecnocráticas por parte dos admiradores votantes. Na edição desse ano (2025), novamente o DJ francês David Guetta (Que esteve no Tomorrowland Brasil) liderou a seleta lista. Ele que através de sua versatilidade no decorrer dos anos e décadas sempre conseguiu adaptar seu som as novas gerações, conseguindo permanecer por muitos anos no mainstream, principalmente através de colaborações com artistas em ascensão na mídia para não “envelhecer” suas músicas e batidas. Como estamos no Brasil, destaco a participação dos brasileiros. Alok subiu de 4º em 2024 para 3º em 2025. Vintage Culture aka. Lukas Ruiz ficou em 11º, o sorocabano Mochakk aka Pedro Maia conseguiu a 56º posição e fechando a participação entre os brasileiros, o DJ e Produtor Musical Liu alcançou a 71º colocação. Há uns 20 anos atrás era impensável haver brasileiros nessa votação de nível internacional. Isso começou a mudar a partir do final da década de 2010 e início da década de 2020, ao qual estamos… Dos listados Vintage destaca-se por seu festival “SÓ TRACK BOA – STB” aliado a sua sensibilidade artística entre a geração que substitui aos poucos aqueles que foram fundamentais para a consolidação da cena eletrônica no Brasil, como os DJs Mau Mau, Marky, Patife, Rica Amaral, Renato Ratier, Renato Cohen, Pil Marques, Anderson Noise, dentre outros. Mochakk possui o seu Club localizado no bairro do Campolim em Sorocaba, o Obliqo. O espaço movimenta a noite sorocabana com propostas eletrônicas e também com sons emergentes que possui um público consumidor e as vezes é introduzido nos sets do DJ e empresário em suas apresentações, sejam elas no Brasil ou no exterior, levando alguns admiradores e críticos a entrarem em rota de colisão em relação a “ousadia” do artista em propor algo até então ainda não utilizado e que aos poucos vem moldando a cena e atraindo outro perfil de frequentadores e consumidores desses estilos. Alok desde a infância conviveu com esse universo de festivais através da influência de seus pais, sem contar que ele consegue também transitar com facilidade em outros nichos mais populares, o que explica o expoente crescimento de sua presença no perfil de diversos públicos que não se prendem apenas um único estilo. Liu desde a faculdade mostrou talento para a música eletrônica. Sempre presente em apresentações de festivais de renome e casas noturnas em todo o país e também outros países, levando sua expertise para as pistas.
Após a escolha dos TOP 100 DJS da DJ MAG, foi a vez de por mais um ano o Tomorrowland desembarcar em Itu. Em Julho, na cidade de Boom – Bélgica infelizmente o mainstage do certame foi vítima de um incêndio poucos dias antes do início das celebrações. O reflexo disso foi o adiamento da edição de 2026 para 2027 (30/04 à 02/05), porém mesmo com esse infortúnio foi possível através da resiliência a continuidade da “terra do amanhã”. A essência da música eletrônica e do PLUR passam por essa resiliência e acolhimentos muitas vezes oriundas do sistema. Na economia isso fortalece a região e o comércio (Tomorrowland Brasil). Faz com que o círculo econômico continue em movimento para um processo de oferta x demanda que contribui para o caminhar natural da micro e macro economia mitigando a curto e médio prazo possíveis austeridades. É possível obter superávits com diversão e investir no lazer e entretenimento! Um exemplo são os frequentadores de festivais e shows que precisam se organizar cada vez mais para curtirem momentos únicos.
Agora indo para o outro lado do mundo e falando com o pessoal do hip hop e que apreciam o turntablism, novamente o Brasil chega ao topo do DMC World. O DJ Raylan conseguiu vencer seus oponentes na categoria supremacy. Dentre seus adversários estava o neozelandês DJ K-SWISS. Antes de Raylan vencer essa disputa, o DJ Erick Jay já havia vencido esse campeonato, considerado “Copa do Mundo dos DJs” por 5 vezes. Na edição de 2025 ele foi um dos jurados. Raylan vinha se destacando em campeonatos no Brasil, como a edição nacional do DMC, o DMC Brasil e o Soco na Gangrena realizado na Matilha Cultural no centro de São Paulo. Ano passado ele participou do DMC World, que foi disputado em Paris na França mas não chegou a ficar com o prêmio. No Japão além de Raylan o Brasil também foi representado pelo barretense DJ Shimpa na categoria classics, o qual chegou a ser finalista porém o título ficou com o japonês DJ Fummy. Ambos artistas mostraram como o hip hop do Brasil é habilidoso. Mesmo não vencendo Shimpa deixa uma marca positiva, além claro do caminho já construído por Erick e agora o título de Raylan. Vence a cena hip hop e todo o underground que surgiu na estação São Bento, ainda resiste por lá mas que se espalhou por toda a cidade de São Paulo, estado e todo Brasil. Pioneiros da cena como DJ HUM, DJ CUCA, DJ MARLBORO dentre outros foram os responsáveis por manter essa cultura viva, a do Real DJ.
Um mês movimentado, aos amantes da música e eventos. As coisas não ocorrem de uma hora para outra. São necessárias renúncias, dedicação e vontade. Os djs de eletrônica e do hip hop que conseguiram boas colocações podem servir de inspiração para você leitor (a) que está na luta mas devido falta de oportunidade ainda não chegou lá. Não desista! Use suas experiências negativas como combustível para o seu sucesso. Não apenas na arte mas em sua vida como um todo!

