Por: Celso Cristiano – Terapeuta Familiar.
Embora não tenham o dom das lágrimas, as aves possuem a comunicação primária do canto, este manifesta múltiplas emoções e instintivamente desde filhotes, percebem que a sobrevivência passa pela comunicação. O canto inscrito em sua natureza é instintivo mas também é vital. De mesma maneira o choro de um recém-nascido, é fundamental para que seus pulmões se adaptem à vida fora do útero, é o momento de expansão do pulmão, mas também é a comunicação de que aquela vida se estenderá. Nas duas situações temos a comunicação como pulsão e anúncio de vida, o canto ou o choro desejam ecoar até que lhe sejam garantidos um espaço.
Já parou pensar o quanto nossos sentimentos precisam ser comunicados? Culturalmente vamos aprendendo que alguns sentimentos devem ser calados ou reprimidos, e, de maneira inconsciente, inserimos uma estética em nossas experiências interiores classificando nossas emoções como feias ou bonitas, ou aquilo que deve ou não ser dito. Seguindo a lógica daquilo que já está pré-estabelecido, nossa comunicação vai passando por uma censura e quando estamos povoados por sentimentos considerados bons temos facilidade de identificá-los e consequentemente comunicá-los. É muito bom falar de coisas consideradas boas, de sentimentos aceitos como bons. Mas acontece que nem sempre sentimos só coisas bonitas. Às vezes o habitante protagonista dentro de nós é aquilo que temos horror, que nos choca e mostra para nós mesmos o quanto nossa humanidade é paradoxal.
Ainda assim, comunicar aquilo que nos minimiza também nos engrandece; porque revelar nossas sombras é uma decisão que exige muita coragem, assumir e expor o que sentimos, principalmente aquilo que só encontra rejeição nos mostra que nem sempre somos luz. A desesperança, raiva, a mágoa, decepção, a inveja são nossos sentimentos marginalizados que recebem apenas os espaços mais periféricos, onde não existe brecha para ser verbalizado, mas são sempre deixados à margem. Falar também é sanear, no sentido de oferecer tratamento adequado para nossas emoções, porque aquilo que não é comunicado ou não encontra espaço interior para se abrigar em algum momento vai reivindicar um lugar.
Vamos lidando com nossas emoções de maneira superficial pautados na máxima do senso comum que “tudo passa”, e realmente boa parte do que sentimos são coisas efêmeras, é vento, mas tem sentimentos que precisam ser elaborados para que ocupem um lugar saudável dentro de nós. Algumas emoções precisam de um maior cuidado, não podem ser negligenciadas e, por vezes, para não adoecermos, precisaremos hospitalizá-las para que recebam os devidos cuidados.
Somos seres que sentem e capazes de nomear o que sentimos, mas na mesma medida somos os que enviam para o exílio aquilo que não nos agrada mas que é inerente a nós. O silêncio só é bom quando edifica nosso interior, silenciar o que reclama por voz é não permitir que nossas sombras tenham a chance de experimentar a luz.