Conviver com animais pode blindar o sistema imunológico, apontam estudos

Estudos realizados nas últimas décadas têm indicado que a convivência com animais, especialmente durante a infância, pode estar associada a taxas mais baixas de doenças imunológicas, como asma, rinite, eczema e alergias. Pesquisas conduzidas em comunidades tradicionais, como os Amish, nos Estados Unidos, chamaram a atenção de cientistas por apresentarem padrões diferentes das populações urbanas nesse aspecto.

Um estudo realizado em 2012 comparou crianças de comunidades Amish, no Estado de Indiana, com crianças Huteritas, que também vivem da agricultura, mas com métodos industrializados. Ambas compartilham origem europeia e dieta semelhante, mas apenas os Amish demonstraram incidência significativamente menor de asma e alergias. Os pesquisadores concluíram que o contato direto e constante com os animais da fazenda parece ser o fator diferencial entre os dois grupos.

Ao analisarem a poeira das casas, os cientistas encontraram maior diversidade microbiana nos lares Amish, o que indicava uma exposição precoce a bactérias presentes em animais. Essa interação influenciava a presença de células T reguladoras no organismo das crianças, responsáveis por atenuar reações imunológicas inadequadas.

Pesquisas semelhantes feitas em regiões alpinas europeias, onde vacas costumam dormir perto de seus donos, chegaram a conclusões parecidas. Foi identificado o chamado “efeito minifazenda”, que sugere que quanto mais animais convivem com uma criança nos primeiros anos de vida, menor tende a ser seu risco de desenvolver doenças alérgicas.

Mesmo em ambientes urbanos, a presença de cães e gatos pode influenciar positivamente a saúde imunológica. De acordo com o professor Jack Gilbert, da Universidade da Califórnia em San Diego, morar com um cachorro, por exemplo, pode reduzir em até 14% a probabilidade de uma criança desenvolver alergias. Embora não haja comprovação de que os microrganismos dos pets passem a integrar permanentemente o microbioma humano, sua presença frequente parece estimular o sistema imunológico de maneira positiva.

Outras pesquisas continuam explorando esse fenômeno. Na Irlanda, estudos com os Irish Travellers — grupo que vive próximo a diversos tipos de animais — mostraram que seu microbioma se assemelha ao de populações indígenas de regiões como Tanzânia, Mongólia e Peru, onde o estilo de vida é menos industrializado. Esses grupos apresentam índices mais baixos de doenças autoimunes.

Novas abordagens vêm sendo testadas, como o realocamento de cães abandonados para viver com adultos mais velhos ou a criação de espaços educativos com cavalos para crianças. Em ambos os casos, os cientistas buscam entender se o aumento da exposição microbiana pode beneficiar o sistema imunológico.

As evidências sugerem que, mais do que companhia, os animais podem atuar como mediadores de interações microbianas importantes para o equilíbrio do organismo humano. Pesquisadores agora tentam descobrir de que forma esse contato pode ser usado como estratégia preventiva para a saúde.

Compartilhe essa notícia