As baixas temperaturas do inverno afetam diretamente o sistema imunológico, abrindo caminho para o aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares. A expectativa de maior demanda por esses casos nos hospitais é reforçada pelo médico patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP, que chama atenção para os efeitos das ondas de frio típicas desta época do ano.
Além do impacto direto do frio sobre o organismo, a poluição atmosférica, mais intensa durante o inverno agrava o cenário. “É como se micro-organismos, como bactérias e vírus, pegassem carona nas partículas de poluição e penetrassem nas regiões mais profundas dos pulmões, onde ocorre a troca gasosa, favorecendo o surgimento de pneumonias”, explica Saldiva.
No caso do sistema cardiovascular, o frio impõe um esforço extra ao coração. “Para evitar a perda de calor pela pele, nosso corpo contrai as artérias, o que aumenta a resistência periférica. Com isso, o coração precisa bombear com mais força, o que pode agravar quadros pré-existentes”, destaca o especialista.
A prevenção, segundo ele, passa pelo controle rigoroso de doenças crônicas. “Pessoas com hipertensão, problemas cardíacos, asma ou crianças com chiado no peito devem ser monitoradas de perto. Mudanças na secreção respiratória, presença de catarro ou tosse exigem avaliação médica imediata”, orienta.
Os idosos, especialmente os acima dos 70 anos, requerem atenção redobrada durante os períodos de frio intenso. “Com o avanço da idade, o corpo perde parte da capacidade de regular a temperatura, a pele fica mais fina e há menor acúmulo de gordura sob a pele, o que os torna mais vulneráveis ao frio”, alerta Saldiva.
Por fim, o professor destaca a influência da chamada amplitude térmica a grande variação entre as temperaturas do dia e da noite como mais um fator de risco. “Vivemos em cidades com baixa umidade, rodeadas por concreto e asfalto. Como nos desertos, temos noites frias e dias quentes. Esse sistema de gangorra térmica veio para ficar, e precisamos nos adaptar.”