Grafite em Itapetininga resgata espaços abandonados com arte e resistência

O grafiteiro Adriano Campos Matos, mais conhecido como Zoio, fala sobre o movimento que ele e sua esposa, Beatriz Dhyovanna, a House, vêm realizando em espaços abandonados da cidade. Em entrevista exclusiva, o casal compartilhou a visão por trás de suas intervenções artísticas, que vão além da estética e têm como objetivo transformar espaços esquecidos em manifestações de vida e resistência.

A ideia de pintar murais em áreas degradadas da cidade não surge de um “projeto” formal, mas de uma necessidade pessoal e espontânea. Segundo Matos, “essa ideia não surgiu, ela é. Está dentro da gente. Se vemos um muro apagado, uma parede que foi ‘clareada’ com tinta branca para cobrir arte, ou lugar tomado por propaganda antiga e sujeira, nossa vontade é transformar. Não para dizer ‘olhem pra nós’, mas porque não dá pra ver e passar reto.”

Embora a crítica ao grafite como vandalismo ainda seja comum, Matos contesta essa visão e defende que sua arte é um resgate simbólico de espaços urbanos. “Essa crítica geralmente vem de quem nunca parou para olhar de verdade. O grafite é a pele viva da cidade falando com quem quiser ouvir.”

A proposta do casal vai além de um simples trabalho estético. Para eles, o grafite tem o poder de interromper o olhar automático e trazer vida aos espaços. “Cada traço, cada cor jogada ali tem o poder de interromper o olhar automático. É uma forma de dizer: ‘Ei, aqui tem vida. Aqui tem gente.’ Nossa mensagem é essa: que o abandono não seja o destino das coisas. Que o feio pode ser enfrentado com beleza, não a beleza superficial, mas a beleza da presença”, explica Matos.

A parceria de Matos com a artista House é central nesse movimento. Dhyovanna, com seu olhar afiado e corajoso, contribui decisivamente para as intervenções. Matos a descreve como uma artista de grande sensibilidade e potência: “Ela escolhe bem os lugares. E mais do que isso, tem coragem. Porque pintar na rua exige coragem, ainda mais sendo mulher.”

Ao ser questionado sobre a reação da comunidade local, Matos destacou momentos marcantes. “Tem de tudo, mas o mais marcante é quando alguém passa e para pra olhar e agradece. Quando uma criança sorri ao ver cor onde antes só tinha muro apagado. Ou quando alguém diz que aquilo inspirou, que mexeu com algo dentro. Isso não tem preço.”

Por fim, Matos deixou uma mensagem para os jovens artistas da cidade: “Não esperem permissão. A cidade e você precisa da sua arte. Se você sente que tem algo a dizer, diga. Pinte, desenhe, escreva, ocupe. Porque o medo é parte do processo, mas a coragem é o que move. A arte verdadeira incomoda antes de ser aceita. Então vai, que a rua é sua também.”

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