Nesta segunda-feira, 19 de maio, é celebrado o Dia Mundial da Doação de Leite Humano, data dedicada à conscientização sobre a importância do leite materno para recém-nascidos que não podem ser amamentados pelas próprias mães, principalmente os prematuros e de baixo peso.
No Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), neonatologistas alertam para a baixa quantidade de leite humano disponível. Embora o banco de leite da instituição mantenha doadoras regulares e registre uma média mensal de 19 litros, os profissionais indicam que o número está abaixo do necessário para atender à demanda atual.
“A doação de leite é um ato simples, mas que pode salvar vidas. A partir de 1 ml de leite humano, é possível suprir a necessidade de um recém-nascido prematuro conforme a indicação clínica. E a falta de candidatas à doação pelo desconhecimento dos benefícios pode comprometer a saúde e a recuperação dos bebês. Por isso, fazemos um apelo e queremos levar cada vez mais informações para que mais mulheres se sensibilizem e colaborem com as doações”, afirmou o neonatologista Walter Nelson Cardo Junior, responsável pelo banco de leite do HSPE.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reforçam que a amamentação é um fator determinante para a redução da mortalidade infantil, sobretudo nos primeiros dias de vida, quando os riscos de complicações são maiores entre os bebês prematuros.
O enfermeiro e estudante de medicina Victor Hugo Julio da Rosa reforça a importância do aleitamento. “O aleitamento materno oferece uma série de benefícios. Para o bebê, ele fornece todos os nutrientes necessários nos primeiros meses de vida, além de anticorpos que ajudam a fortalecer o sistema imunológico, protegendo contra infecções, alergias e até doenças crônicas no futuro. Para a mãe, a amamentação ajuda na contração do útero, reduz o risco de hemorragias pós-parto, contribui para o retorno ao peso pré-gestacional e está associada à redução do risco de câncer de mama e ovário.”
Rosa também destacou as recomendações oficiais sobre o tempo mínimo para o aleitamento. “Tanto a OMS quanto a SBP recomendam o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade — ou seja, sem a necessidade de água, chás ou qualquer outro alimento. A partir dos 6 meses, inicia-se a introdução alimentar, mas o leite materno deve ser mantido de forma complementar até pelo menos 2 anos de idade ou enquanto for desejo da mãe e do bebê.”
O enfermeiro chama a atenção para os desafios enfrentados pelas mães. “Os desafios mais comuns envolvem dor, fissuras nos mamilos, dificuldades com a pega correta, dúvidas sobre a produção de leite e, principalmente, insegurança. Além disso, há um fator que pesa muito: os palpites. É comum ouvir conselhos de tias, primas, vizinhas — geralmente bem-intencionados, mas que muitas vezes trazem mais confusão do que ajuda.”
Segundo ele, o papel da enfermagem é oferecer acolhimento e orientação técnica. “Nosso papel é ajudar a mãe a se sentir segura, respeitada e protagonista da sua experiência — sem julgamentos, comparações ou pressão.”
Rosa explica ainda que há situações específicas em que a amamentação pode ser desaconselhada. “Por exemplo, mães com infecção ativa por HIV, HTLV ou que utilizam determinados medicamentos que podem passar para o leite e prejudicar o bebê devem receber orientação individualizada. Do lado do bebê, uma das poucas contraindicações absolutas é a galactosemia, uma condição metabólica rara.”
O enfermeiro também comentou sobre práticas que vêm ganhando repercussão na internet, como o consumo de leite materno por adultos. “Essa é uma prática que vem chamando atenção, especialmente nas redes sociais. No entanto, do ponto de vista técnico e ético, a enfermagem — assim como a maior parte da comunidade científica — vê essa prática com bastante cautela.”
Ele aponta riscos sanitários e éticos. “O consumo de leite materno por adultos, especialmente quando adquirido de outras pessoas fora de um ambiente controlado, pode expor o indivíduo a doenças infecciosas como HIV, hepatites B e C, sífilis, citomegalovírus. Além disso, a comercialização informal pode desviar o leite de recém-nascidos que realmente precisam dele. Isso fere princípios básicos de bioética, equidade e saúde pública.”
Com a escassez de leite humano nos bancos hospitalares e a crescente demanda por este recurso vital, profissionais de saúde reforçam a necessidade de campanhas educativas e ações de incentivo à doação. O Brasil possui uma das maiores redes de bancos de leite humano do mundo, e a participação da sociedade é essencial para manter o sistema funcionando de forma segura e eficiente.