Número de denúncias de trabalho infantil em Itapetininga cresce 300% em dois anos

Município lidera casos na região; campanha nacional reforça que trabalho infantil não é brincadeira

No Dia Mundial e Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, celebrado em 12 de junho, dados do Ministério Público do Trabalho (MPT) revelam um cenário preocupante na região: Itapetininga registrou aumento de 300% nas denúncias de trabalho infantil em dois anos. O município saltou de 2 denúncias em 2023 para 8 somente nos cinco primeiros meses de 2025 — o maior número entre as 13 cidades monitoradas na região.

Além de Itapetininga, os dados mostram oscilações importantes em outros municípios. Confira o comparativo regional:

Cidade20232024 (jan-mai)2025 (jan-mai)
Itapetininga248
Buri161
Tatuí130
Capela do Alto111
Pilar do Sul010
São Miguel Arcanjo010
Capão Bonito001
Guareí010
Alambari, Sarapuí, Campina do Monte Alegre, Angatuba000

O número de denúncias em Itapetininga representa 36,3% do total registrado entre todas as cidades da lista em 2025, com base nos dados de janeiro a maio — proporção preocupante, considerando que o município responde por apenas uma parte da população regional.

Segmentos mais afetados

Segundo o MPT, os segmentos onde o trabalho infantil tem sido mais identificado incluem:

  • Restaurantes e serviços de alimentação
  • Trabalho rural
  • Comércio de rua e estabelecimentos
  • Movelaria e tapeçaria

A prática, além de ilegal, é considerada uma grave violação dos direitos humanos, interferindo diretamente no desenvolvimento físico, emocional e educacional de crianças e adolescentes.

“Trabalho precoce perpetua desigualdades”

De acordo com Ronaldo Lira, vice-procurador-chefe do MPT em Campinas, o crescimento das denúncias está ligado tanto à persistência do problema, especialmente em áreas vulneráveis, quanto ao maior engajamento da sociedade em reportar os casos.

“O trabalho precoce prejudica o desenvolvimento das crianças e adolescentes, limita o acesso à educação e perpetua desigualdades sociais que se arrastam por gerações”, afirma Lira.

Aprendizagem: alternativa legal e preventiva

O MPT também identificou aumento nos casos de empresas que descumprem a cota obrigatória de aprendizagem profissional. Em todo o interior de São Paulo, foram 110 denúncias entre janeiro e maio de 2025, contra 88 no mesmo período do ano anterior — um aumento de 25%.

Em 2024, o total anual foi de 357 casos, quase o dobro dos 185 registrados em 2023.

A aprendizagem profissional, prevista na CLT, exige que empresas de médio e grande porte destinem de 5% a 15% de seus cargos para aprendizes. Segundo Lira, essa política pública é fundamental para prevenir o ingresso precoce e ilegal no mercado de trabalho.

Campanha nacional: “Toda criança que trabalha perde a infância e o futuro”

Neste ano, a campanha de combate ao trabalho infantil traz o tema “Toda criança que trabalha perde a infância e o futuro”. A ação envolve órgãos como o MPT, MTE, Justiça do Trabalho, OIT e FNPETI, com divulgação em redes sociais e vídeos inspirados em relatos fictícios de quem começou a trabalhar muito cedo.

As histórias retratam trabalho doméstico, rural, mendicância e atividades digitais como influenciadores — mostrando que nem sempre o trabalho infantil é visível, mas sempre é prejudicial.

O que fazer ao presenciar trabalho infantil?

Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo aplicativo MPT Pardal, pelo site www.mpt.mp.br, ou pelo telefone Disque 100. O envolvimento da sociedade é essencial para mudar essa realidade.

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