Pessoas com mais de 50 Anos: Sem emprego e longe da aposentadoria

A economia brasileira começa a dar sinais de recuperação, com aumento no número de empregos formais, conforme dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. No entanto, um dado alarmante se destaca no último boletim: enquanto jovens de até 24 anos ocuparam 90% das novas vagas, trabalhadores com mais de 50 anos enfrentam um cenário oposto. Foram fechadas 160 mil vagas para essa faixa etária, deixando um grupo significativo sem emprego e sem possibilidade de aposentadoria imediata.

A dificuldade da recolocação no mercado para trabalhadores mais velhos evidencia um problema estrutural no Brasil: o país não está preparado para lidar com o envelhecimento da população. De acordo com o Censo Demográfico do IBGE de 2022, o número de idosos cresceu 57,4% em apenas 12 anos, e a previsão é que mais de 50% da população seja composta por pessoas acima dos 50 anos até o final do século.

Dificuldade para se aposentar

A situação se agravou após a reforma da Previdência de 2019, durante o governo Bolsonaro. Segundo o professor Marcus Orione, do Departamento de Direito do Trabalho e Seguridade Social da Faculdade de Direito da USP, as mudanças dificultaram o acesso à aposentadoria. “A emenda constitucional de 2019 colocou requisitos mais onerosos de idade, diminuindo a possibilidade de concessão de aposentadoria tanto por idade quanto por tempo de contribuição. Essa situação foi agravada pela questão etária”, explica Orione.

Diante desse cenário, milhares de brasileiros enfrentam um limbo previdenciário: são considerados muito velhos pelo mercado de trabalho, mas ainda muito jovens para se aposentar.

Falta de políticas de suporte

Para Orione, o Estatuto do Idoso deveria ser minimamente cumprido para garantir proteção efetiva a essa população. “Se fosse respeitado, teríamos melhores condições de mobilidade e acesso a elementos essenciais para esse grupo”, argumenta o professor.

Outro ponto crucial é o apoio ao empreendedorismo. Muitos trabalhadores acima dos 50 anos acabam buscando alternativas no mercado informal, mas enfrentam dificuldades pela falta de políticas públicas que incentivem essa transição.

O exemplo alemão

Embora a situação dos idosos desempregados não seja exclusiva do Brasil, alguns países oferecem melhores condições para essa parcela da população. A Alemanha, por exemplo, possui uma realidade econômica diferente e políticas de proteção mais integradas. “É difícil importar modelos de outros países, pois a seguridade social está sendo restringida globalmente. O tratamento digno ao idoso só ocorre em nações com melhores condições econômicas e políticas sociais estruturadas”, avalia Orione.

Diante de um envelhecimento populacional cada vez mais acelerado, especialistas alertam para a necessidade urgente de medidas que garantam dignidade e segurança financeira para os trabalhadores mais velhos. Sem mudanças estruturais, o Brasil pode enfrentar uma crise social profunda nos próximos anos.

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