Observatório da Imprensa e o seu legado!

Venho abordar um assunto muito importante para os amantes do jornalismo e das comunicações no geral. A importância e legado do projeto audiovisual e impresso “observatório da imprensa” o qual debatia sem filtros e em caráter pedagógico os princípios, direitos, deveres e condução da mídia e suas respectivas empresas diante dos principais fatos do cotidiano. Quando cursei jornalismo na faculdade, os meus professores João Elias da disciplina de teoria da comunicação e o Zeca de comunicação contemporânea já afirmavam em classe: “No jornalismo, como na publicidade ou cinema não há imparcialidade… Mesmo que discretamente sempre haverá pautas e olhares enviesado dos fatos! Isso ocorrerá conforme as convicções do jornalista, porém muitas das vezes isso é estimulado pelo proprietário dos veículos midiáticos.” Ambos eram categóricos em suas aulas, no qual em determinados momentos eram inevitáveis litígios em torno de oposições ideológicas diversas…

O projeto Observatório da Imprensa, surgiu na metade da década de 1990, idealizado pelo jornalista, professor universitário e escritor carioca Alberto Dines (1932-2018 – In Memoriam). Quando a internet ainda engatinhava em solo brasileiro, o observatório iniciava sua trajetória em questionar e debater os meios de comunicação que ditam os rumos sociais. Certa vez Dines afirmou: “Jornalistas não podem se intimidar com o berro de um general, agressões policiais ou de quem quer que seja, mesmo vindo de um presidente dos Estados Unidos (…) Todo jornalismo é investigativo, ou não é jornalismo. Donde se conclui que o que lemos, ouvimos ou vemos todos os dias na imprensa não é jornalismo”. O observatório da imprensa surgiu através da iniciativa do instituto para o desenvolvimento do jornalismo vinculado ao laboratório de estudos avançados em jornalismo da Universidade de Campinas (UNICAMP-SP). Após 02 anos do início das atividades pela internet, ocorreu o lançamento de seu programa televisivo. A data desse fato foi em 05 de Maio de 1998 com a aprentação do próprio Dines (Que tinha uma bagagem vasta nos principais impressos do país em décadas anteriores) e transmitido através da extinta TVE Brasil do Rio de Janeiro e com pool midiático envolvendo majoritariamente a TV Cultura de São Paulo e a extiinta TV Nacional de Brasília. Em 2007 tanto a TVE Brasil quanto a TV Nacional tornaram-se TV Brasil. A primeira passou de emissora pública estadual para federal enquanto a última continuo sendo controlada pelo poder público federal, sendo que quem a controlava era a extinta radiobrás que com a mudança tornou-se EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Com as mudanças que foram implementadas o pool foi descontinuado já que a TV Brasil com o tempo lançou sua sucursal na cidade de São Paulo com sinal aberto para os telespectadores do município e estado de mesmo nome. O programa ocorria semanalmente, sendo exibido as terças-feiras na faixa das 22:00hrs.

Após 07 anos do lançamento do programa televisivo foi a vez de o observatório ser transmitido em emissoras públicas e educativas de rádio em todo o país no ano de 2005. Todo esse sucesso sucumbiu com o passar dos anos em decorrência dos problemas de saúde enfrentados pelo principal personagem a frente do projeto. Com isso não foi possível encontrar um substituto com o mesmo peso de Dines tanto nos holofotes quanto principalmente nos bastidores com um perfil sempre analítico, preciso e articulado. No ano de 2016 foram iniciadas campanhas para a manutenção do site, através de financiamento coletivo voluntário de seus leitores.

A linha editorial da atração apresenta-se como uma entidade civil, não governamental, não corporativa e não partidária que pretende acompanhar, juntamente a outras organizações da sociedade civil, o desempenho da mídia brasileira e mundial. Sua defesa sempre foi afirmar que é um veículo sem pautas ou proprietários. Sempre foi aberto a contribuições de jornalistas, professores universitários, executivos e empresários de comunicação de todos os espectros e correntes políticas e ideológicas, dentre elas os próprios críticos de seus “supostos” posicionamentos ideológicos.

Com a descontinuidade do observatório e o posterior falecimento de Alberto Dines, ficamos a mercê de atrações que não buscam mais raciocinar, questionar e debater a mídia. Lembro-me de no passado acompanhar programas muito interessantes mostrando e debatendo os posicionamentos em torno de matérias editoriais, reportagens etc. Empresas públicas comunitárias e educativas sempre deverão ter esse papel de isonomia sem envolvimentos políticos para fortalecer uma sociedade que consome seus conteúdos. É impensável isso em empresas privadas pois as receitas tornam esses veículos dependentes dos anunciantes em prol de sua sobrevivência. Certos posicionamentos podem gerar déficits no orçamento.

Sou um defensor que no ensino básico além de disciplinas como: Educação Financeira, Midialogia, Conceitos Básicos de Direito Púbico, Privado e Tributário, além da inclusão nas aulas de educação física de natação e artes marciais como Muay Thai, Jiu Jitsu e/ou Krav Magá para a auto defesa e disciplina de uma sociedade “refém” da incompetência do poder público e aumento da impunidade e criminalidade. Enfim… Temos que tomar cuidado com viagens nostálgicas, porém em alguns aspectos o contemporâneo é desolador…

Compartilhe essa notícia