Nos últimos anos, o conceito de economia recreativa tem ganhado espaço nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e inovação social. Mas, afinal, o que significa essa expressão que soa, à primeira vista, como uma contradição? Em tempos de produtividade incessante e lógica de consumo acelerado, falar em recreação dentro da economia pode parecer utópico. No entanto, a economia recreativa é uma proposta concreta que busca redefinir o propósito da atividade econômica, colocando o bem-estar humano e ambiental no centro das decisões.
A economia recreativa se baseia na ideia de que a economia não deve servir apenas ao lucro ou à acumulação de bens, mas à criação de experiências significativas, ao tempo livre de qualidade e à integração entre as pessoas e a natureza. É um modelo que propõe reorganizar a sociedade em torno do lazer criativo, da cultura, do esporte, do turismo consciente, das artes e da convivência comunitária — tudo isso sem romper com as necessidades produtivas, mas reorientando-as. A lógica é simples: uma sociedade que valoriza o descanso, a brincadeira e o prazer é mais saudável, inovadora e, no longo prazo, mais sustentável.
Esse conceito também dialoga com o decrescimento e com modelos de economia circular, pois questiona a centralidade do trabalho compulsivo e do consumo como medida de sucesso. Ao invés de transformar o planeta em uma fábrica permanente, a economia recreativa defende a construção de ambientes urbanos e rurais que estimulem a criatividade, o contato humano e o equilíbrio emocional. Parques, praças vivas, centros culturais acessíveis, feiras locais, redes de economia solidária e práticas de autocuidado coletivizadas são alguns exemplos práticos dessa visão.
Claro, há quem veja nisso uma visão idealista ou restrita a sociedades já desenvolvidas. Mas na verdade, experiências de economia recreativa emergem com força justamente em regiões periféricas, onde a escassez de recursos exige soluções comunitárias e inovadoras. Nesse contexto, a recreação não é luxo, mas resistência: a festa, o encontro, a roda de conversa e o mutirão são formas ancestrais de gerar valor, sem depender do mercado formal.
Diante de um planeta esgotado por crises ecológicas, desigualdades extremas e epidemias de saúde mental, talvez esteja na hora de levar mais a sério essa proposta. A economia não precisa ser apenas um campo de sacrifício — ela pode, e talvez deva, ser também um espaço de prazer, arte e partilha. Afinal, como diria o poeta, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.