Redes sociais e saúde mental: entre a conexão e o vazio.

Vivemos em uma era em que nunca estivemos tão conectados. As redes sociais transformaram a maneira como nos relacionamos, como consumimos informação e até como nos enxergamos. No entanto, essa conexão constante cobra um preço. Estudos recentes indicam que o uso excessivo de plataformas digitais está associado a sintomas de ansiedade, depressão, distúrbios do sono e dificuldades de concentração. A promessa de aproximação, paradoxalmente, muitas vezes gera isolamento emocional.

O que se observa é um mecanismo silencioso: as redes oferecem recompensas rápidas: curtidas, comentários, compartilhamentos, que estimulam a busca por validação externa. Esse ciclo pode se tornar viciante e impactar diretamente a autoestima, especialmente em jovens que estão em processo de construção de identidade. Quando a vida real não corresponde à vida editada e filtrada das telas, o sentimento de inadequação cresce, fragilizando a saúde mental. Outro aspecto preocupante é a sobrecarga de informações. A mente humana não foi feita para lidar com tantos estímulos simultâneos. A avalanche de notícias, imagens e opiniões pode gerar confusão, ansiedade e até mesmo um sentimento de impotência diante dos problemas do mundo. O excesso de informação, em vez de nos informar melhor, muitas vezes nos paralisa. Falo aqui também de uma experiência pessoal. Desde 23 de janeiro de 2025 tenho praticado o exercício de ficar fora das redes sociais. Confesso: não é simples. Sempre fui muito presente no Instagram, Facebook e X. Estava envolvido, acompanhava debates, registrava momentos e me sentia parte de uma comunidade. Ao me afastar, percebi o quanto o hábito de checar notificações era automático, quase um reflexo. O desafio diário tem sido aprender a lidar com o silêncio digital — e a reconhecer que ele também tem valor. Por mais difícil que seja, esse período tem me mostrado que a vida acontece fora das telas, nos encontros presenciais, nas pausas sem registro e na tranquilidade de simplesmente estar. Isso não significa que as redes sejam vilãs absolutas. Elas têm sua importância: permitem contatos, ampliam vozes, aproximam familiares distantes e podem até servir como ferramenta de aprendizado. A questão central está no equilíbrio. É necessário desenvolver um uso consciente, impondo limites de tempo, selecionando conteúdos com cuidado e, principalmente, cultivando momentos de desconexão. O filósofo Byung-Chul Han¹, ao analisar nossa sociedade da performance, já alertava que vivemos em uma época em que o excesso de estímulos e cobranças nos leva ao esgotamento. Nesse sentido, o uso indiscriminado das redes não é apenas um hábito de lazer, mas um reflexo de uma lógica maior: a de estar sempre disponível, produtivo e visível. A psicologia nos oferece recursos para enfrentar esse desafio, ajudando a compreender os gatilhos emocionais ligados às redes e a desenvolver estratégias de autorregulação. A educação, por sua vez, pode preparar as novas gerações para um convívio mais crítico com a tecnologia, ensinando desde cedo que a saúde mental deve ser prioridade.

Até que ponto você usa as redes sociais e até que ponto elas estão usando você?

¹Byung-Chul Han (Seul, 1959): é um filósofo e ensaísta sul-coreano, professor da Universidade de Artes de Berlim.

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