Na última semana ocorreu a edição número 60 da principal semana de moda do país, a São Paulo Fashion Week. Ela é a principal semana de moda da Amércia Latina e é considerada a 5ª principal do mundo, atrás das principais: Paris, Milão, Nova Iorque e Londres. E a frente de mercados como Buenos Aires (em uma ótica mais regionalizada) e Tóquio. No Brasil já dividiu os holofotes com a Fashion Rio (que também possuía produção de Paulo Borges, criador da semana de moda paulistana). Já houveram duas semanas de moda no Brasil durante alguns anos até 2013 quando a edição carioca foi incorporada na edição paulistana. A partir de 2016 as nomenclaturas que dividiam as coleções Outono-Inverno e Primavera-Verão foram extinguidas e com isso surgiu a adoção do número da edição, sendo a de Maio do mesmo ano simbolizada pelo N41. Ainda continuam havendo 02 edições anuais do evento, mesmo durante o período pandêmico, o qual ocorreram no formato online enquanto a sociedade estava privada de liberdade por determinação estatal em várias partes do mundo.
O evento reúne os principais estilistas, modelos e mídias do país. Sua maior visibilidade comerçou a surgir a partir do ano de 2001. Antes disso serviu como um evento embrionário e entuasiasta que conhecemos hoje. O SPFW existe devido a iniciativa tanto de Paulo Borges e a sua produtora Grupo Luminosidade, quanto da empresária Cristina Arcangeli que iniciaram esse processo no ano de 1994 como um piloto para mudar a rota e os olhares para a moda estrageira e assim enaltecer profissionais e a indústria brasileira. Ambos durante a metade e final da década de 1990 seguiram caminhos diferentes. Borges optou já em 1996 em fechar uma parceria com o Morumbi Shopping e realizar desfiles lá com a alcunha de Morumbi Fashion Week. Foram apresentadas na época 31 marcas distribuídas em 7 desfiles. O objetivo de Paulo era consolidar o calendário da moda brasileira. No ano seguinte Arcangeli criou a Phytoervas Fashion Award, um evento que premiava estilistas, modelos, jornalistas e publicitários e foi considerado um meio de rivalizar entre os antigos parceiros e pioneiros da existência da semana de moda paulistana. O nome do certame remete a empresa de Cristina, que foi utilizado em 1994 como Phytoervas Fashion Week que contou com 3 estilistas e desfiles. No ano de 1998 chegou ao fim essa premiação. Uma curiosidade é que a ex-modelo gaúcha Gisele Bündchen foi premiada como melhor modelo brasileira nesta celebração.
Em 1999, a emissora americana E! Entertainment Television (Presente nas TVs por Assinatura no Brasil até hoje) começou a cobrir o Morumbi Fashion Week. Nesta edição, a modelo inglesa Kate Moss desfilou para a coleção de verão da grife Ellus, atraindo um grande número de público presente. Entre 1998 e 2000, diversas marcas internacionais como Chanel, Versace e Gucci começaram a abrir lojas no Brasil. Esse fato trouxe uma mudança significativa para a indústria têxtil do país. Profissionais de diversos áreas, como: estilistas, produtores, modelos, patrocinadores, tecelagens, jornalistas, agências, indústrias e técnicos se profissionalizaram e ganharam espaço no nicho da moda, graças à criação da semana de moda. Foi nesse período que começaram a surgir as supermodelos brasileiras, como Shirley Mallmann, Gisele Bündchen, Isabeli Fontana, Adriana Lima, Alessandra Ambrósio, dentre outras. Hoje, todas elas têm carreira e fama internacional, que trouxeram maior renome e prestígio ao evento. Foi também durante esses anos que muitas marcas brasileiras como Fórum, Triton, Ellus, Zoomp, Zapping, Maria Bonita, Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Alexandre Herchcovitch, Amir Slama, Jum Nakao, Walter Rodrigues, Iódice e Fause Haten começaram a ter fama internacionalmente.
Foi no ano de 2001 que a semana de moda brasileira adotou o nome de São Paulo Fashion Week, marcando assim o nascimento da Semana de Moda como é conhecida atualmente. No primeiro ano como SPFW, o evento recebeu a coleção de verão da grife Swarovski, que trouxe de Nova Iorque peças de ornamentos feitos com pedrarias, criadas pelas marcas Dolce & Gabbana, Alexander McQueen e Vivienne Westwood, o que acabou provando que o Brasil estava preparado para realizar uma semana de moda de grande porte e ganhar status respeitável no exterior. O SPFW foi considerado o primeiro evento de moda a se conscientizar com a quantidade de emissão de carbono, pelo fato de ser realizado em parques públicos de São Paulo. Em 2008, o Grupo Luminosidade se associou a empresa holding InBrands. A partir da ação, começaram a promover a SPFW em conjunto. A parceria proporcionou um número maior de investidores e patrocinadores para o evento, movimentando ainda mais o mercado fashion brasileiro. Em 2013, os desfiles de primavera-verão, que aconteciam em junho, foram transferidos para março e os desfiles de outono-inverno, que aconteciam em janeiro, foram transferidos para outubro. Desde então, os desfiles passaram a ocorrer 6 meses antes das peças chegarem às lojas, possibilitando, assim, uma melhoria na produção, logística e distribuição das marcas que desfilam no evento. Entretanto, a semana de moda que aconteceu em outubro de 2016 foi a última edição a seguir este calendário. Em maio de 2016, Paulo Borges, anunciou que a SPFW iria se desprender das estações do ano e adotar o movimento See now, buy now (“veja agora, compre agora”). Com a velocidade imposta pelas redes sociais, o novo formato “see now, buy now” visa se aproximar das gerações atuais e saciar um desejo de consumo imediato.
No decorrer dos anos, os investimentos no evento cresceram de R$ 600.000,00 em sua primeira edição para mais de R$ 5.000.000,00 por edição. Também houve um aumento significativo do número de estilistas que participam do evento: de 21 para 34 participantes. Por isso, hoje a SPFW é o evento de moda mais importante da América Latina e do Hemisfério Sul e aparece entre as cinco mais importantes semanas de moda do mundo, ao lado de Paris, Milão, Nova Iorque e Londres. O evento que costuma durar uma semana, permite que as coleções e desfiles de estilistas renomados sejam apreciados sendo, assim, relevante para que a indústria preveja tendências futuras, por isso a organização é feita meses antes da estação, pra dar tempo de comercializar.
Grandes veículos jornalísticos internacionais já fizeram e/ou fazem ainda hoje a cobertura dos desfiles, como Vogue, Elle, Vanity Fair, Harper’s Bazaar , Cosmopolitan e Fashion TV. Na imprensa brasileira, o evento conta hoje com mais de dois mil profissionais para fazer a cobertura jornalística – nos primeiros anos, apenas 250 jornalistas a fizeram. Algumas modelos famosas no mundo, como Naomi Campbell, Candice Swanepoel, Karolina Kurkova e Kate Moss já desfilaram no evento. O objetivo da São Paulo Fashion Week não é apenas de divulgar o trabalho dos criadores brasileiros, mas também de organizar a produção de moda do Brasil, tornar os desfiles do país internacionais e potencializar novos negócios no setor.
A edição que testemunhamos semana passada resgatou a essência e ousadia do eventos que durante a segunda metade da década passada acabou sendo ofuscada aos poucos. Glória Coelho e seu desfile nos vagões de trem (alusivo o que ocorreu na Moda do Metrô de 2013 com a proposta inverno 2014 que eu estive presente e foi muito bem elaborado por Paulo Borges), a Forca com alusões ao militarismo com exibições de paraquedismo e desfiles no aeroporto Campo de Marte resgatam a conexão entre moda e atitude… Como trilha sonora, sempre dominou nas passarelas a música eletrônica, batidas brasileiras e o hip hop em determinados desfiles. Os outros estilistas também mostraram um resgate ao conceitual. Acompanhando os materiais e propostas fiquei muito contente com o que foi feito. Vida longa ao evento que é importante para consumidores e produtores de moda. Como já mencionei tive a felicidade de cobrir de forma independente a edição de 2013 com alguns desfiles nas estações da Linha 2 Verde do metrô e assistir como espectador os desfiles da marca Ratier em 2017 na edição N43. No passado para acompanhar o evento era necessário ter convites, atualmente já é possível comprar ingressos. O tempo molda costumes e formatos… Assim vamos evoluindo gradativamente!

